Já dizia o Quintana...

Pessoas são apaixonantes e encantadoras. Talvez essas sejam as causas de todas as discórdias entre os casais da raça humana. É triste revelar mas a sua esposa, aquela que você esta casado há trinta e sete malditos anos, já sentiu atração e já se encantou por pelo menos umas quatro pessoas em todos esses anos de cônjuge. E não pense, queridinha, que aquele seu maravilhoso namorado que dia após dia recita apaixonadamente aquelas três alvas e puras palavras nunca tenha tido vontade de dar um beijo ou na vizinha gostosa ou naquela colega de faculdade que o auxilia na resolução de seus problemas de álgebra II.

O que podemos fazer se o mundo e suas diversidades aguçam as nossas mais íntimas vontades e nos fazem imaginar como seria a vida caso a escolha que fizemos há trinta e sete anos tivesse sido outra? Limitamo-nos todas as manhãs quando sentimos vontade de beijar o português da padaria (como disse o ilustre Zeca Baleiro.) enquanto seu marido dorme esperando o belo café ou quando fingimos não existir nenhuma vontade oprimida diante da pergunta de sua namorada sobre sua fidelidade e sobre como ela é a única pessoa do mundo pela qual você sente calafrios.

De fato nunca nos apaixonaremos a ponto de esquecer todas as boas qualidades das outras pessoas que permeiam as nossas vidas, tampouco ficaremos cegos diante os defeitos da pessoa que divide conosco uma parte do nosso cotidiano. Maldita sociedade que ao invés de aproveitar essa diversidade e esse maravilhoso mercado de adjetivos nos veta a ponto de termos de aceitar que não poderemos possuir tudo que aspiramos.

Como propôs Quintana, na vida devemos nos contentar com uma escolha, dolorosa porém definitiva “ou nos conformamos com a falta de algumas coisas na nossa vida ou lutamos para realizar todas as nossas loucuras...” Aceitamos o fato de não termos beijado todas as bocas que nos seduziram, ou confrontaremos essa sociedade monógama afim de realizar tudo que nos apetece?

Eis a questão.