quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

The ride.

" A vida é feita de escolhas. Primeiro fazemos nossas escolhas, depois nossas escolhas nos fazem ".

Tenho a sensação que peguei atalhos ao longo de todos os caminhos da vida e que, muitas vezes, as saídas mais fáceis me afastaram dos objetivos que eu havia traçado. Posso elencar pelo menos uma dúzia de situações em que eu segui o trajeto mais conveniente, ao invés do que demandaria mais dedicação e empenho.


Falo isso com um pouco de arrependimento, mas também orgulho da estrada pela qual eu já percorri. Entendo muito claramente que, algumas dessas vezes, perdi mais do que ganhei. Magoei pessoas, feri sentimentos (tanto os meus quanto os de terceiros) e abri mão de viver uma gama enorme de possibilidades de felicidade por não conseguir vislumbrar que ali estava posto tudo que eu precisava e não apenas o que eu desejava.

O tempo nos mostra que somos incapazes de prever como nos sentiremos frente às consequências das escolhas e das renúncias que fazemos na vida. Não escolhemos quem vamos amar ou quem vai balançar nosso coração. Não temos nenhum domínio sobre o momento, não o cronológico, mas o que tange a estar disponível e preparado para construir relações reais. Acaba que as coisas surgem quando é chegada a hora de acontecerem, mesmo que seja a mais improvável possível.

Podemos definir apenas como vamos nos dedicar às relações, se seremos intensos e livres, se podemos dar o máximo de nós ou se a única viabilidade é a desistência e a autopreservação. Podemos escolher quem deixaremos pelo caminho, mas também podemos ser deixados, prerrogativa que vale para todos.

Acordei pensando em um ano que passou, há muitos anos. Lembrei-me de em uma relação que eu construí e abandonei tal quais aquelas casam que vemos em praias desertas, consumidas pelas areias do tempo. Essas ruínas, embora ainda bonitas, nos mostram que ali havia alguma coisa gloriosa e que por algum motivo se perdeu, deixou de ser cuidada e habitada. 

O irônico é estar aqui, de volta ao mesmo lugar, esperando algo de quem eu deixei para trás, relembrando todo o caminho percorrido e imaginando como teria sido e se poderia ser. Será que temos condições de refazer os mesmos caminhos e sermos levados a destinos diferentes?


terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Kintsugi - sobre marcas e partidas.

"Cada partida leva uma parte de você. Que sejam das partes imateriais, planos ou sonhos. Sobra pouco, porque de tudo mais precioso que parte, a vontade de recomeçar é item finito".

 Estive pensando em fazer uma retrospectiva sobre o pior ano da minha vida. Dentre as coisas boas que aconteceram, justiça seja feita, posso relembrar apenas os bons momentos com as crianças que crescem numa velocidade impressionante. A maternidade tem dessas coisas irônicas; torcemos pela autonomia e celebramos os passos rumo ao futuro que sonhamos, na exata medida que sofremos a passagem dos minutos e dos segundos, que nos entristecem por levar os períodos em que nossos filhos ainda não pertencem ao mundo todo. São somente nossos, o que nos garante o prazer de, em sua inocência e pleno desconhecimento à vida, sermos completamente suficientes para eles.

Este anseio de "bastar", como condição para a felicidade, é o mal que nos assola, diuturnamente, porque nele reside a maior incoerência humana – ansiamos por algo inalcançável. Nunca nos bastaremos ou teremos nossa sede do desconhecido saciada, uma vez que somos feitos, primordialmente, da matéria do querer, a necessidade de desafios, de saídas da nossa zona de conforto, de possuir aquilo que ainda não nos pertence, mas também desejamos ser pares, completos e realizados.

Quando entendemos nossos filhos desbravando o mundo, aprendemos a regozijar sobre o ninho vazio. Esta é a única partida feliz, embora ainda enfeitada de pontinhos de dor.

Podia gastar linhas aqui sobre tudo que aconteceu de desventura na minha vida em 2016. Mas teria que gastar tantos outros parágrafos explicando também sobre as flores que crescem no concreto, mas já aviso que este não é um texto feliz. Podia passar o resto deste escrito contando como podemos perder a nossa linha condutora. Posso arriscar a dizer que, embora minha história soe triste, os finais sempre os são. Todos. Sem nenhuma exceção. E que não há nada que mereça ser lido sobre isso e que a literatura já não tenha o feito. Pouparei os leitores, já cansados das histórias sacais de relacionamentos destruídos pelo cotidiano; sempre são enfadonhas. Dentre tantas mulheres, dentre tantas narrativas, a minha seria mais uma, contada por uma escritora medíocre.

Ouvi dizer que há aqueles que sentem o alívio pelo fim e que este sentimento é o suficiente para lhes empurrar para frente, mas esse não é o meu caso. Rupturas sempre nos deixam marcas indeléveis, sempre nos transformam de alguma maneira - boa ou ruim, mas indiscutivelmente vêm precedidos de grandes momentos de profundo abatimento. Não acredito que caminhem sobre esta terra seres humanos imunes à dor de ir embora ou de deixar algo partir.

 Prefiro me concentrar em perdas maiores, ainda que no campo metafísico, no imaginário e emocional. O pior ano da minha vida é de tristeza por quem eu deixei de ser, ou pela pessoa que eu me transformei. Certa de que, conforme minha precondição humana de nunca ter as necessidades acalmadas, me encontro hoje apática. Condição esta que me faz sofrer muito além do fim das estruturas sociais; saber que essas dores não vão me matar, saber que vou recomeçar e que, a cada vez, uma parte de mim é deixada para trás é a terrível lição de amadurecer.

 Nossas escolhas nos forjam. As renúncias do caminho, muitas das vezes, têm mais significados do que as próprias opções. A cada novo rumo, deixamos nosso eu menor, para que tenhamos espaço para ocupá-lo com novas experiências. A parte difícil de aceitar é que nunca mais seremos o que fomos, somos resilientes mas não temos a capacidade de remendar histórias ou corações quebrados. No Japão, quando um vaso se parte, completa-se com ouro, para que as cicatrizes sejam celebradas e jamais esquecidas ou fingidas.

 Na verdade, partimos é de quem fomos.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Metropolização de cidades tombadas causa prejuízo aos patrimônios

O arquiteto responsável pela construção de Brasília, Oscar Niemeyer, causou polêmica ao propor a construção da Praça da Soberania, local que abrigaria o "Obelisco dos Presidentes" e, subterraneamente, um estacionamento para três mil carros. Sob a alegação de que a obra estaria incluída no projeto original desenvolvido por Lúcio Costa, Niemeyer desistiu de concretizar o que seria sua uma de suas últimas obras, mediante diversas críticas de urbanistas e habitantes da cidade.



Os contrários à inclusão de novos monumentos ao Eixo Monumental alegam que construção da praça afetaria a vista para o horizonte, aspecto determinante no projeto de Lúcio Costa. “As escalas devem ser preservadas. Minha real preocupação é com o projeto urbanístico da cidade”, explica a arquiteta e urbanista, Maria Elaine Kohlsdor.



O tombamento tem o objetivo de preservar da descaracterização e depredação os bens de valor histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e também de valor afetivo para a população. Com apenas 27 anos de idade na época do reconhecimento pela UNESCO, a jovem capital foi responsável por aumentar a lista, composta hoje por apenas 17 localidades brasileiras inscritas na lista dos patrimônios da Humanidade.



O reconhecimento de Brasília como Patrimônio Mundial ocorreu em 7 de dezembro de 1987, e, juntamente com o tombamento proposto pelo governo brasileiro, consiste em preservar as quatro escalas delimitadas pelo urbanista Lúcio Costa.



Vulgarmente entendida pela população como uma paralisação ou um problema, os bens tombados podem ainda ser utilizados e comercializados, contanto que se preservem as características originais do imóvel. Vale ressaltar que, caso o proprietário esteja interessado na venda do bem, deve-se realizar uma comunicação prévia com à instituição responsável pelo tombamento, para que ela possa comprar esse patrimônio. No caso de Brasília, esse tipo de situação não se aplica, já que a cidade é tombada como um todo, buscando a preservação não de imóveis em específico.



Tombamento



O projeto de Brasília prevê mais do que apenas construções e edificações coordenadas. Lúcio Costa implementou na nova capital um estilo de vida, uma concepção de cidade diferente de qualquer outro lugar, escolhendo três dimensões a serem trabalhadas; As escalas Gregária, Monumental, Residencial e Bucólica.



A Monumental diz respeito aos monumentos erguidos em Brasília, estando indicada principalmente no Eixo. A residencial é composta por superquadras localizada nas Asas Sul e Norte do projeto que imita um avião. A gregária é a de convivência entre os habitantes da cidade como os setores hospitalares, bancários, hoteleiros e de diversão. A bucólica, talvez a mais emblemática de Brasília, trata dos parques e dos espaços verdes, que dão um toque especial ao projeto.



Essas quatro escalas foram preservadas e o plano de tombamento é específico para cada uma delas. “A manutenção das escalas é necessária para caracterizar os espaços. Quando se está andando pelas quadras residenciais da Asa Sul podemos, pelas características do local, saber que estamos na escala residencial” reforça Kohlsdor.



Metropolização de cidades tombadas


O processo de metropolização acontece quando as cidades ultrapassam um milhão de habitantes. Segundo dados do censo 2010, liberados pelo IBGE nesta semana, no DF moram cerca de 2,5 milhões de pessoas. Planejada para receber um número de habitantes muito inferior à realidade da cidade após 50 anos de sua construção, pode-se observar uma série de problemas de infra-estrutura na região.



A degradação das áreas tombadas não é fruto apenas do desconhecimento do valor cultural e arquitetônico por parte da população, mas, em alguns casos pela necessidade de acomodação dessa grande massa populacional e da especulação imobiliária. “Não devemos culpar a especulação imobiliária, claro que existe a pressão desse setor, mas cabe ao poder publico ceder ou não a essas exigências. Construções ao longo da Epia, por exemplo, são inevitáveis, mas o governo deve criar normas para essas construções não prejudicarem a estética da cidade”, reforça Maria Elaine.



A palavra adaptação é o subterfúgio utilizado pela população para conseguir conciliar a importância do tombamento com as necessidades diárias. Puxadinhos, construções de terraços e salões de festa nos prédios, invasões de áreas públicas e de parques, utilização irregular de a construção de um cinturão sem planejamento em volta do Plano Piloto são motivos que afetam diretamente a conservação do projeto de Lúcio Costa, mas esse problema não é identificado apenas em Brasília.



As quadras da 700 Sul, passaram por uma revitalização no final de 2008, com a finalidade de preservar a escala residencial da região. Cerca de 50 estabelecimentos que funcionavam nessas quadras como pousadas, saunas e salões de beleza tiveram que mudar de endereço, entretanto, ainda existem pequenos e tímidos comércios funcionando nas casas.



Invasões de áreas verdes e públicas também podem ser facilmente notadas na Asa Sul. O aposentado Carlos Ferreira, adquiriu sua casa em 1996 e ganhou junto com o lote uma área cercada por grades, que serve como garagem e pátio residencial. Questionado sobre a invasão, o morador alegou pagar até o Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU). “Quando eu comprei essa casa, já tinha essa área verde ai. Houve uma lei defendida na Câmara Legislativa para a apropriação definitiva do local, mas não acompanhei o final do caso. Eu pago IPTU dessa região, além do da minha casa”, afirma o aposentado.



Já os comerciantes da região se baseiam na Lei nº 766/08, que regulamentou os ‘puxadinhos’. De acordo com o dispositivo legal, os proprietários das lojas são responsáveis pela conservação das calçadas e manutenção de 2m livres para a circulação de pedestres, podendo estender seus estabelecimentos em até 6 metros atrás do bloco comercial. “A principal irregularidade é a ocupação demasiada da área verde que envolve Brasília, na escala bucólica”, afirma Briane Bicca, urbanista e consultora do Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília.


Nem as cidades mais antigas escapam da metropolização. Em visita a Ouro Preto, em comemoração aos 300 anos de elevação de Vila Rica e aos 30 anos de tombamento pela cidade, a reportagem conversou com moradores que dizem haver a necessidade de se realizar as mudanças e que, por vezes, alterações indevidas ocorrem de forma inconsciente. Nesses casos é necessária uma mobilização de órgãos do estado na implementação de políticas de preservação.



A professora Cemir Emiliano, 36 anos, moradora da Ladeira Santa Efigênia, uma das regiões mais tradicionais da antiga cidade de Ouro Preto, alega ter feito pequenas adulterações na fachada de sua casa. Sem informações suficientes, os moradores tentam preservar as características de seus imóveis, mas é difícil sem a ajuda de órgãos que cuidam desses tombamentos. "Aqui na ladeira várias casas estão desconfiguradas. As pessoas precisam mudar uma janela, precisa repintar as casas, mas não sabem como fazer isso direito", critica a moradora.



A região da Bauxita, bairro de construção recente de Ouro Preto, foge totalmente ao padrão colonial. A superintendência do Iphan de Minas Gerais busca conciliar e orientar os moradores na hora de realizar as obras, que não podem interferir na área de preservação. A política do órgão na região é muito firme e trabalha em sintonia com a população.



Em Ouro Preto, qualquer construção ou alteração em imóveis deve ter a autorização da prefeitura e do Iphan. "As vezes as pessoas querem colorir a casa de tons que não fazem parte da paleta de cores barrocas ou construir um prédio moderno, e não pode. O Iphan conscientiza o cidadão da limitação, mas o processo é educacional, visando resgatar no povo a estima pela história e cultura", explica o superintendente regional de Minas Gerais, Leonardo Barreto.



Plano de Preservação


Brasília, membro ativo do Comitê do Patrimônio Mundial da UNESCO, sediou em julho deste ano a 34ª reunião do grupo. Além das deliberações sobre a inclusão de novas localidades à lista, aconteceu uma avaliação rigorosa sobre a preservação dos aspectos referentes ao patrimônio.



Segundo Alfredo Gastau, superintendente regional do Iphan em Brasília, a última visita do comitê foi ponderada e realista e o relatório serviu para que diversas alterações no que se relaciona à conservação do projeto de Lucio Costa fossem tomadas. “O comitê é composto por pessoas muito realistas, pessoalmente não vejo nenhuma ameaça, pois, apesar dos pesares, Brasília respeita o plano original. Mesmo com os puxadinhos, mantêm-se a obra original. Precisamos ajustar ainda algumas coisas”, explica Gastau.



Uma ferramenta que visa colaborar para a manutenção do tombamento em Brasília é o Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília (PPCUB), assinado em março de 2009. Por meio de reuniões abertas, a comunidade em conjunto com profissionais da área pôde debater questões referentes ao patrimônio cultural, diretrizes e ocupação do território do Distrito Federal.



Esse relatório gerado com a colaboração da população foi posteriormente enviado para o GDF e o Iphan para análise e correções. O projeto foi encaminhado à Câmara Legislativa do DF que vota o seu conteúdo, podendo também realizar alterações. Depois se inicia a aplicação do plano.



O PPCUB atende diretamente às demandas enumeradas pelos relatórios da UNESCO, buscando resolver os impasses na manutenção dos patrimônios e se estende também a outras áreas, hoje incluídas no Plano Piloto. Na assinatura do contrato, ficou determinado que Candangolândia, área Octogonal, os Cruzeiros; velho e novo, o Sudoeste e as Vilas Planalto e Telebrasília também estão delimitadas no projeto original da cidade, e para elas haverá prescrição de medidas para a sua preservação.



Para Briane Bicca, a união entre bons gestores públicos e o olhar atento da população ao cumprimento do plano são essenciais para que essa política seja eficiente. “É essencial que existam pessoas honestas e qualificadas para que o Plano não sofra modificação. O cidadão de Brasília tem um papel fundamental na vigilância sobre o que se faz na cidade”, reforça Bicca.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Os desafios dos deficientes no ensino superior público do DF

Outubro de 2010
Clicabrasília.com.br
Jornal de Brasília


Quando o assunto é educação, a inclusão de pessoas portadoras de necessidades especiais ainda é um desafio. Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), até o ano de 2008, apenas 0,05% dos portadores de necessidades especiais no Brasil tinham acesso à educação superior. Desses, 1.788 em instituições públicas do país. O número de egressos em instituições privadas é nove vezes maior. Entretanto o montante não ultrapassa os 12 mil.

Quase 25 milhões de brasileiros possuem alguma necessidade especial. Esse número corresponde a 15% da população brasileira, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Traduzindo, de cada 100 pessoas, 15 possuem algum tipo de deficiência física ou mental no país. No Distrito Federal, aproximadamente 275.580 pessoas necessitam de cuidados especiais.

Nos últimos dez anos, houve um aumento substancial de 425% no número de alunos portadores de deficiência no ensino superior. Apesar do crescimento da demanda de alunos especiais à vida acadêmica, esse valor ainda não mostra uma real mudança na situação de pessoas com deficiência. Nos estados do Amapá, Ceará e Rondônia, até 2008, não existia nenhum aluno portador de necessidades especiais em instituições públicas de ensino.

O aumento da procura desses alunos pelo ensino superior é uma realidade, mas esses números ainda são baixos e não dizem se esses alunos conseguiram se graduar, ingressando posteriormente no mercado de trabalho.

No DF, a situação mostra que esse aumento caminha a passos curtos. Na Universidade de Brasília (UnB) foram realizadas no primeiro semestre deste ano 27.419 matrículas. Apenas 59 de alunos possuiam necessidades especiais. Desconsiderando os alunos matriculados nos semestres anteriores, o número de deficientes que ingressaram na universidade não soma 1%.

Realidade
Martha Sousa, 45 anos, entrou para o curso de Letras da Unb em 1994. Após problemas de saúde, ela ficou paraplégica logo que terminou o ensino médio, com 16 anos. A aluna prestou o vestibular convencional, quando já tinha 29 anos, e decidiu entrar pra universidade.

Na época, Martha era uma das poucas alunas com deficiência física na instituição. Ela relata que os alunos e professores não estavam preparados para recebê-la e que, por isso, sofreu preconceito e acabou sendo, progressivamente, afastada do convívio social na universidade. "Os alunos me viam como uma pessoa incapaz. Eu não era chamada para os trabalhos em grupo e tinham que provar, o tempo todo, que eu conseguia realizar as atividades como todo mundo", conta Martha.

Hoje, cursando a segunda graduação na UNB, ela avalia que a situação do aluno com necessidades especiais é melhor, entretanto o preconceito e as dificuldades para manter o curso são grandes. "Na minha primeira graduação eu tinha dificuldade de convívio na universidade. Após as políticas de inclusão, eu sinto que agora é mais fácil", afirma Martha.

Algumas questões estruturais também foram resolvidas com o passar do tempo, como a aquisição de mobília especial para comportar alunos cadeirantes e rampas de acesso aos prédios, entretanto, situações cotidianas, como estacionar na vaga de deficientes, ainda é um problema.

Já o estudante de biblioteconomia Luciano Ambrósio, deficiente visual, se locomove pelos longos corredores da Unb na companhia de seu cão guia ou ajudado por outros alunos. "Os projetos estruturais não foram pensados pela perspectiva dos deficientes. A Unb, por exemplo, é muito cheia de degraus, não favorecendo assim a locomoção", relata Luciano.

No caso dele, o maior desafio na universidade foi conseguir ter acessos aos conteúdos educacionais. Não existe bibliografia científico-acadêmica em linguagem Braille. A saída foi contar com o apoio de monitores da Unb que faziam adaptação dos conteúdos e de dispositivos eletrônicos que realizam a leitura dos textos. "Eu utilizo muitos livros em formato eletrônico, através de um leitor de voz. Outra forma são as gravações de aulas e conteúdos em áudio. Os monitores lêem os textos e gravam para me ajudar", conta Luciano.

Políticas de inclusão
Para garantir a entrada e - ainda mais importante- a permanência desses estudantes na instituição, o Programa de Apoio aos Portadores de Necessidades Especiais (PPNE) é uma peça fundamental para ajudar a driblar obstáculos sentidos pelos alunos com necessidades diferenciadas. O projeto tem como objetivo promover o atendimento para esses alunos dentro da instituição, intermediando a relação entre eles e os demais docentes e professores, estimulando o convívio.

Para o coordenador, José Roberto Fonseca, os baixos índices de ingresso desses alunos ao ensino superior denota um problema na educação básica. "O problema não está no ensino superior, mas no caminho até ele. A educação básica precisa de atenção", alerta Fonseca. Segundo o coordenador, 90% dos alunos que conseguem ingressar na UNB se formam, ainda que leve um pouco mais de tempo.

Essas práticas aliadas a uma maior conscientização têm atraído esses alunos, estimulando uma maior procura por especialização. "Desde a criação do projeto, em 1999, mais de 200 alunos com necessidades especiais conseguiram se formar e alguns continuam nos cursos de pós-graduação e mestrado", revela Fonseca em tom positivo.

O trabalho da PPNE consiste em ajustar o campus e a metodologia à realidade dos alunos. O coordenador ressalta que a partir da demanda desses universitários, mudanças são realizadas a fim de melhorar a qualidade de vida na universidade. "O atendimento à esses alunos é individualizado. Infelizmente, nosso espaço ainda não é totalmente adequado aos alunos portadores de necessidades especiais. Junto com eles, procuramos identificar e mapear esses problemas no campus", explica Fonseca.

Com a ajuda do projeto, os alunos com deficiências conseguem se adaptar às formas de avaliação, contando também com a ajuda de monitores voluntários que auxiliam na realização de atividades. O programa mantém um carro adaptado para transportar os alunos com deficiência física dentro das instalações da UnB e eles ainda tem acesso à tecnologias que colaboram para a melhor formação desses estudantes como a biblioteca digital e sonora, gravadores de áudio, impressoras em Braille, dentre outros.

A aluna Martha considera que as políticas de inclusão são de suma importância, já que o preconceito ainda existe dentro do mundo acadêmico. "As políticas para incluir de forma correta os alunos portadores de necessidades especiais fazem a diferença", sugere a universitária que considera que existam fatores externos às instituições que expliquem os baixos números de alunos deficientes nas graduações. "A família também colabora para dificultar a inserção desses alunos. Muitas vezes somos desestimulados em casa, quando seus familiares vêem você como um inválido ou incapaz", detalha a aluna.

Na avaliação geral desses alunos, as deficiências do ensino é que devem ser eliminadas, respeitando assim as diferenças existentes em todos os alunos. "Cada aluno é uma experiência nova, somando assim pra uma melhor educação de forma geral", finaliza Ambrósio.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

E foi assim que ela descobriu que todo o amor do munto estava dentro daquele peito. Que todas as coisas boas estavam ali o tempo todo e só precisavam ser tiradas da gaveta. E embora aquilo nunca tivesse feito tanto sentido, por alguns segundos a ordem de todas as coisas mudou.

Logo em seguida veio um abraço, daqueles grandes e cheios de carinho e esperança. Daqueles que fazem a gente ter vontade de sair correndo, pegar na mão e embarcar. Pra onde? Ah... não importa. E logo após um adeus, a certeza de que algumas coisas na vida valem muito a pena.

E agora pulsa de novo.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Temos o poder de decidir, em todas as ocasiões, se faremos da nossa história um drama, daqueles novelescos, cheios de lágrimas, situações clichês e convencionais salpicados de partidas e desilusões, ou se faremos dos nossos limões, doces liquores, daqueles que nos refrescam em tardes quentes de verão e que tornam a nossa passagem por essa vida mais fácil e agradável.


Deparamo-nos sempre, invariavelmente, com as duas opções e decidir é sempre a parte mais difícil. Por vezes, a melhor saída é, discretamente, passarmos o poder de escolha à entidades superiores e competentes, como o tempo ou qualquer outra fatalidade da vida.


Encarar as situações que podiam custar pedaços de nossos fígados, dia após dia, como aconteceu a Prometeu após ceder o fogo aos homens, pode ser até uma experiência revigorante; basta sabermos que, ainda que doam, nossos órgãos irão se recompor. Sejamos pessoas "fígado", leves e sempre dispostas a começar mais um bom dia, ainda que o grande pássaro de nosso sofrer, insista em voar em círculos sob nossas cabeças e arrancando-nos pequenos pedaços.



Acordei feliz e orgulhosa de poder enfim, entender que as coisas são como devem ser. Que não devemos olhar com maldade para o outro, que não devemos desistir de seguir o caminho certo, ainda que o fruto de nossos esforços não seja o esperado. Ah, o esperado! Só pra constar nessas linhas, que ele é sempre acometido pelo inesperado e sendo assim, não pesa sob nossas cabeças a resolução final.



Hoje eu comecei um novo e bom dia.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

O estudo das festas como registro etnográfico

Nota-se que eu tive um ótimo sábado, ou que eu não sou um ser social.


"Ahhh Malinowsky.... Se tu fostes contemporâneo, saberia o quão frutífera pode ser uma noite na balada."

É com essa frase introdutória que discorro sobre o meu mais novo hábito; a antropologia. Aquela feita 'in loco', nos agitos sagrados de sábado a noite. Em eventos cujos frequentadores se divertem ao som do passado 80's, roupas da moda e papos dislexicos, ora pela bebida ora pela quantidade de substantivos novos.

Mas o ponto aqui não é a comunicação, ou ainda que seja, não a verbal. A conversa dos corpos, as maneiras e os métodos. Uma festa pode ser um objeto muito interessante, ainda mais quando a única pessoa sóbria, aparentemente, é você. E assim, eu desenvolvi minha mania.

No último sábado, estava eu no meio do mato. Sim, uma festa no "bosque". Pude me deparar com os tipos sociais baudelarianos, mas mais ainda com aqueles modernos, que eu, na minha humilde prepotência os considero a real "blank generation".

Partindo para a parte que realmente importa, vamos ao fatos. Engraçado acompanhar o desenrolar da festa. Se no começo todas as garotas compostas em suas roupas especiais se mostram austeras, ao final, o bom espírito da pomba-gira as transformam em caçadoras deliberadamente cruéis. Os garotos, que tímidos, no princípio se importam com amenidades, continuam assim até o final, por vezes falta de pretensão, em outras, pela inércia. E os tipos se entrelaçam no ballet da coisa, se relacionam e se movimentam pelo salão, tal quais animais em busca da perpetuação da espécie. E assim começa a dança.

O estudo da dança como ritual pré-cópula, nos leva a imaginar o desenrolar de várias histórias, e como elas avançarão no after party. As garotas, como disse um amigo, iniciam os trabalhos da noite com uma coerografia ao estilo "ducha corona", enquanto que os garotos (QUE POR FAVOR, MANTENHAM A COMPOSTURA ON THE DANCEFLOOR!!) balançam seus copinhos com o bendito suco, a cerveja. Elas dançam para conquistá-los, eles bebem para esquecê-las. Ao final, a tribo enlouquece. A "blank generation", todos iguais na vontade de serem diferentes. As memas conversas chatas de todo final de semana, a dança das línguas nas bocas alheias, a falta de profundidade ou de uma referência maior do que as breves história do rock ( que por sinal, está sendo ensinada formalmente numa escola da cidade com o nome "Curso intensivo de história do rock").
.

E assim a festa prossegue e chega ao fim.
Eu, não sei dançar como as garotas lobas e nem bebo com os meninos pavões.
Fico lá, flanando por entre o ambiente, estudando meticulosamente o que eu não quero pra mim.
Como disse o bom e velho Buk

Beware the avarage man, the avarage woman
Beware their love. Their love is avarage.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Cansada do vazio.
Não o único causado pela falta de quem foi pra longe, mas o fruto da falta causada pelas pessoas de perto.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

A mulher mais chata do mundo. (Parte I)

Diário de bordo de uma garota azeda.

Olá.
Não vá você pensando que é um olá simpático, daqueles de telemarketing. Hoje acordei mais chata do que o normal, ou talvez tenha ficado mais chata pelo aperto da minha calça jeans. Está fazendo um calor insuportável nessa cidade e essa semana não termina nunca.

Tive aula no primeiro tempo (e teria agora no segundo, quando resolvi matar) e logo me dirigi à praça de alimentação, cheia de calouros loiros e menininhas lindas. Isso me irritou.
Acabo de constatar que a faixa etária dos novos alunos da minha universidade não combina com a minha idade, e longe de mim estar velha no auge dos meus 20quase21 anos, fato é que ainda jovem eu sou quase 5 anos mais velha do que todas essas garotas.
E como elas são lindas e extremamente petulantes.

Estou irritada hoje com o tempo que não passa, com a temperatura do ar condicionado, com o inexplicável (???) término dos meus cigarros, com a reserva cancelada do hotel, com a saudade potencializada que eu ando sentindo, os quilinhos a mais, com a minha irmã que depende de mim para ir pra casa... e com um pouco mais das coisas de sempre.

Fico por aqui hoje, estou chata demais até para eu mesma aguentar.

domingo, 22 de março de 2009

Autor desconhecido.


O segredo do tempo é consumi-lo sem percebê-lo.
É fingir-se infinito para não o vermos passar
É fazer-se contar em anos em vez de momentos

Relógio, despertador, cronômetro, calendário
Tudo engodo para imaginarmos prendê-lo, controlá-lo
Ampulheta, único instrumento sincero do tempo
Regressivamente, nos impõe a gravidade
De haver realmente um último grão
Riscando na areia a nossa fragilidade

Mas o tempo é imparcial
Não distingue rico de pobre
Preto de branco, homem de mulher
Devora-se sem escolhas

Matar o tempo é matar-se sem sentido
Perdê-lo é viver em vão
Faz-se devagar nos maus momentos
Depressa quando o queremos
Ponteiro invisível da vida
Peça necessária do fim

A sua fome é insaciável
A sua vontade é determinante
A sua procura é unanimeS

e esconde nas sombras que se movem
Nos objetos que não mais servem
Nas pessoas que nunca mais vimos
Na podridão das frutas que não foram colhidas
Nas lembranças já esquecidas

Revela-se nas fotos que se desbotam
Nas cartas que amarelam
Nas crianças que crescem
Nas rugas que aparecem