Ela tinha um sorisso maior do que cabia em sua modesta arcada dentária. Johan desconfiava que ela havia roubado o brilho de todos os diamantes que as robustas e esnobes senhoras usavam para enfeitar seus enrugados pescoços naquela noite, e os havia reorganizado naquele sorriso quilometricamente ofuscante e lindo. Caso alguém o elogiasse na sua frente, logo ela daria a desculpa de que foram muitos anos de tratamento ortodôntico. Seu olhos se fechavam, puxadinhos, e as maçãs rubras se elevavam quase que 3 cms dos seus lugares normais.
Naquela noite, Johan nem percebeu... mas os sorrisos de Marianne eram pra ele. O mesmo sorriso que outrora fora amarelo, agora reluzia esplendoroso.
Johan se atrasara, e todos os cumprimentos já haviam sido dados quando ele chegou. Marianne havia abraçado amigos, trocado palavrinhas e besteirinhas com conhecidos e bebido alguns drinks. Marianne nunca bebia e talvez tenha resolvido beber essa noite para se esquecer do frio que fazia lá fora, e do mundo. Usava um vestido acinzentado e bordado com lantejoulas. Sua pretensão de parecer sensual continha todo um teor inocente. Ela estava inspirada e ao mesmo tempo parecia que tudo aquilo fora obra do acaso(ou dos pensamentos bondosos de Johan).
Marianne, era tudo que Johan precisava... e Johan era pra Marianne a última chance.
Fato é que Marianne estava triste. Aquela festa nada mais era do que uma vitrine de tentativas frustradas para a felicidade. Lá estavam Peter, Josh e tantos outros que já faziam parte do passado que ela gostaria de esquecer. Estar lá significava mais do que simplesmente se divertir em uma festa regada à champagne e boa música. Estar lá era provar pra ela e pra todos que ela havia superado tudo. Que já não se importava para o fato de ver Peter amando loucamente mais uma, dentre inúmeras garotas que ele amara nos últimos tempos e Josh casado, feliz e com um lindo bebê que poderia ter sido seu filho. Era como se ela fosse confrontada com a sensação impotência por não conseguir ser realizada e feliz. Marianne sabia qual era o gosto da derrota.
Johan sentia que de alguma forma deveria salvar Marianne daquele tormento fantasiado de jantar e por isso sempre que possível tentava encontrar uma maneira de divertir a triste moça. Ofereceu fogo para o cigarro, indicou o caminho mais próximo ao banheiro, arriscou-se a lançar comentários sobre o mundo das mulheres, puxou a cadeira para que confortavelmente Marianne sentasse, desafiou até a concorrência a fim de estabelecer um contato imediato... Mas nada pareceu surtir algum efeito. Marianne estava aérea, como que em outro mundo e isso deixava Johan desiludido.
Só o que Johan não sabia era que a enfadonha e nublada Marianne só desejava que ele a levasse embora daquele lugar.
***Mas não faz sentido algum prolongar isso aqui. Só queria postar o primeiro parágrafo, que eu achei muito bonitinho para ser descartado. Fica aqui registrado que eu não imagino algum desfecho para esse conto.
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